Tudo acaba em pizza!

TUDO ACABA EM PIZZA!   (texto de José Ouverney - 29.01.2014)

     É comum utilizar-se esta expressão para ironizar situações conflitantes que, através de acordos – bem ou mal alinhavados – acenam com finais supostamente felizes, geralmente com a parte poderosa dando as cartas e ditando as regras. Mas existe também o lado saudável da história, quando a expressão “pizza” é levada ao pé da letra.

     A União Brasileira de Trovadores, seção de Pindamonhangaba, por exemplo, através de José Valdez, conseguiu tornar famosas as reuniões da entidade por ele presidida quando começou a promover as reuniões mensais na antiga Pizzaria Casa Nostra – do trovador BessanT – que por muitos anos foi o ponto de referência da Rua Santa Maria Mazzarello (que um engraçadinho chamava de “Santa Maria Muzzarela”). Uma vez por mês os trovadores ali se reuniam alegremente, para falar de poesia, saberem das últimas sobre concursos em andamento e os mais recentes resultados, e compor trova a quatro mãos (aquela em que cada autor compõe um verso .  Houve até um caso bastante curioso:

Um trovador, sem noção,
que era chegado num “mé”,
começou na “quatro mão”
e acabou de “quatro pé’!

     Ao redor de uma mesa enorme, reuniam-se Valdez, Helena Moura, José Guarany, Paulo Tarcísio/Anamaria, Luiz Rose/Ana Clara, João Paulo, Gonçalo, Maurício Cavalheiro, Luiz Antonio Cardoso, Dona Norma, Enivaldo, Luiz Henrique, Cabral e outros que, esporadicamente compareciam. Devidamente anfitrionados pelo BessanT, que ainda nos dava uma ‘canja” ao violão. Os trovadores chegavam com uma “fome de anteontem”, tanto de poesia quanto de massa.

     Os encontros ficaram tão conhecidos que recebíamos mensagens de trovadores de outras localidades distantes, lamentando não poderem se fazer presentes, tais como o Poeta Ademar, de Natal, a Olga Agulhon, de Maringá, e outros. João Paulo, em 2007, fazia a convocação em rimas:

Trovador, com meu carinho,
vá ao BessanT, na segunda;
não se perca no caminho,
o endereço não confunda.

Vai ter Maurício, o José,
o Nélio, Helena e Valdez;
perder isso não dá pé,
foi linda a última vez.

     Quando, infelizmente, o estabelecimento comercial fechou, os encontros tiveram continuidade em outra casa do gênero mas, a partir de então, o encanto já não era o mesmo. O som de televisores ligados e o barulho de muitas outras mesas ao lado (já não tínhamos nosso ‘cantinho exclusivo”) interferiam, fazendo com que a poesia perdesse seu lugar no trono. Até que os encontros deixaram de ser realizados.

     Em 2012 aconteceu a retomada, já então nas dependências do Museu, mas algo havia se quebrado. Pouquíssimas pessoas compareceram. Uns casaram-se (não vou entregar o ouro), outros morreram (casos do Enivaldo e do Gonçalo), e a tradicional pizza foi substituída por bolacha e cafezinho…

     O que me leva a concluir, saudosamente, que… até mesmo entre os trovadores, o final era muito mais feliz naquele tempo em que tudo – ao invés de acabar em bolacha – acabava em pizza!
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texto de José Ouverney, publicado em 08.02.2013.