José Antonio Jacob - Juiz de Fora

          Casinha de Boneca 

  

Um dia ela guardou os seus segredos,

Porque sentiu que o amor ao longe vinha,

Trancou no quarto todos seus brinquedos

E o sonho da boneca e da casinha.

 

E foi buscar aquilo que não tinha

No alegre faz-de-conta dos seus dedos,

Contou tristezas e chorou sozinha,

Depois sorriu das mágoas e dos medos.

 

Passou o tempo e ela seguiu a sina,

E assim, com a decência que ilumina,

Também andou por aonde o mal caminha...

 

Quanta ternura tem essa velhinha,

Que fica no seu quarto de menina

Brincando de boneca e de casinha!

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               Revelação 

 

 

Nada sabeis de mim e sabeis nada

Porque venho regresso de outra lida.

Nada me perguntastes na chegada

E nada vos direi na despedida.

 

Se eu cheguei de uma alegre caminhada

- Ou se deixei tristeza na partida -

Pode ser que ao final dessa jornada

Nada ainda sabereis da minha vida.

 

Não entendeis do céu que nos assiste?

Trago nos olhos grandes o olhar triste,

Tais quais olhos da noite arregalados.

 

Espiai essas estrelas tão banais:

Tantos mundos distantes revelados,

Mas que aos olhos dos homens são iguais!

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               Desenho

 

 

A nuvenzinha que no céu passou,

Lépida e alegre, sem nenhum rumor,

Num pé-de-vento foi e não voltou:

Era uma folha num jardim sem flor...


Virando a folha um sol no céu brilhou

E fez surgir um dia de esplendor,

Veio uma sombra e o dia se apagou:

Era um desenho num papel sem cor...


Por que será que meu rabisco leve,

Que traço em suavidade colorida,

Esvoaça fácil feito um sonho breve?


E tudo que eu amei foi despedida...

E por que o meu destino não escreve

Uma história feliz na minha vida?