Qual é a Missão da UBT?

                                                         

    QUAL É A MISSÃO DA UBT?
(texto de J.B.Xavier, publicado no Boletim Nacional da União Brasileira de Trovadores=UBT , edição de outubro/2017)

 
          Certa vez, em novembro de 2011, por ocasião da entrevista que fiz com Izo Goldman em sua residência, o assunto chegou ao Juventrova de Pindamonhangaba.  Naquela ocasião lembro-me  que ele se mostrava desapontado pelo fato de que o Juventrova de Pinda, à época em sua edição 17, se não me engano, não havia trazido nenhum novo trovador à seção. (aliás, oito anos depois da entrevista e cinco anos após a morte de Izo Goldman, ainda não trouxe!)

          Ele fez o comentário desalentador em resposta  à minha proposta de multiplicarmos o Juventrova por todo o país. ‘De que adianta - disse ele, se em Pinda  não deu nenhum resultado em termos de fazer crescer a seção?’

          Isto mostra como, muitas vezes, até os mais traquejados cometem o erro de responder certo à pergunta errada! No  modo de pensar dele, o Juventrova de Pinda existia para trazer trovadores para a seção, quando na verdade, ele é um concurso intercolegial que se destina a divulgar a Trova entre estudantes e professores. Tanto é que não existe nenhum cadastro de participantes.

          Minha proposta feita na ocasião desta entrevista com Izo Goldman, era de que o Juventrova deixasse de ser um concurso divulgador da Trova e se transformasse num instrumento de captação de novos trovadores - tanto entre alunos quanto entre professores. Esta proposta pode ser vista no YOUTUBE,  neste endereço.

          Ao assumir a Secretaria Nacional da UBT, levei  essa ideia, que passei a chamar de Programa Juventrova, à Presidente Nacional, sugerindo que a implantássemos em todas as seções e delegacias do Brasil. A Presidente não só se mostrou uma entusiasta da ideia como delegou a mim a responsabilidade de implantar o programa. Foi então que criamos, em cada seção, o cargo de Coordenador do Programa Juventrova, além de uma coordenação nacional, que foi a mim delegada.

          Ocorre que a implantação de um programa dessa magnitude, que vai mexer com sonhos de crianças e colaborações de professores, precisa estar muito bem alicerçado em bases teóricas sólidas, sérias, responsáveis e socialmente úteis.

          Cedo concluí  que  UBT não possui essa base, não possui uma missão clara, nem senso de utilidade, e nem mesmo uma razão forte que justifique sua existência. Provavelmente Luiz Otávio sabia o que desejava da UBT, mas ou não passou isso aos seus sucessores ou seus sucessores esqueceram de suas orientações.

          E assim, a UBT foi, ao longo das décadas, se reduzindo  a reuniões, concursos e festas. Porém, hão de concordar comigo que esses elementos, por si só não dão liga suficiente para manter uma entidade coesa e pujante. Mais ainda, os inúmeros títulos honoríficos criaram uma verdadeira torrente de vaidades, que foi aos poucos apagando o ideal de existir da entidade, se alguma vez ele existiu.

          Ao criar o título de Magnífico Trovador em Nova Frigurgo, por exemplo, Luiz Otávio desejava dar maiores chances a trovadores medianos de se classificarem em seus concursos, uma vez que os trovadores ‘feras’ teriam seu concurso à parte.

          Por mais que torçam os narizes os antigos trovadores que leiam essas linhas, saibam que essa minha afirmação começou a tomar forma num episódio que me foi contado por Izo Goldman e nas respostas de mais de trinta trovadores - todos calejadíssimos na UBT - com os quais convivi nas festas que frequentei e nas entrevistas que fiz com alguns deles.

          A eles fiz a seguinte pergunta: ‘Para que a UBT existe? Qual é, afinal, sua missão?’.

          Obviamente fiz a pergunta dentro de uma conversa informal, justamente porque não desejava constranger ninguém. O engraçado é que todos ‘coçavam a cabeça’ diante da pergunta, que, me pareceu, nunca lhes havia ocorrido.

          Mas, hoje o título de Magnifico Trovador, e outros, se transformaram em ostentação,  e possuí-lo significa pertencer a um “patamar superior” no âmbito da entidade.  Há inclusive ‘magníficos’ que não participam de outros concursos, o que demonstra como a vaidade assumiu o controle das coisas.

          Pessoalmente considero esses títulos hoje existentes, importantes testes de habilidade, mas com ressalvas, posto que os julgamentos, por serem empíricos, são fruto  do gosto pessoal de alguns julgadores apenas, e estão sujeitos a falhas, como em muitas ocasiões já ficou demonstrado.

           Mas o objetivo deste artigo não é discutir a validade dos títulos, nem tampouco ser instrumento de análise comportamental. Citei os títulos apenas para demonstrar como eles são um dos fatores de distração do verdadeiro objetivo da UBT, que, afinal, ainda não encontrei quem me dissesse qual é.

          Esclareço aos que torcerem o nariz ao ler essas linhas, que essa minha afirmação começou a tomar forma num episódio que me foi contado por Izo Goldman a respeito de um dos maiores e mais aclamados trovadores da UBT, cujo nome não precisa ser citado.

          Numa conversa informal com este grande trovador disse ele a Izo Goldman, de quem era grande amigo: ‘Eu faço trova para ganhar concursos e ir às festas, onde como, bebo e me divirto com os amigos’.

          Em tese, quase todos na UBT tem o mesmo pensamento.  É nisto em que os trovadores da UBT se transformaram: fazedores de trovas para ganhar concursos que os levarão às festas e os tornarão “famosos”.

          Não há nada errado com o pensamento deste grande trovador, nem estão errados os que pensam como ele. Apenas precisamos saber que, com essa meta pequena pode-se até fazer uma entidade grande, como é hoje a UBT, mas jamais se fará uma Grande Entidade, que é o que ela deseja ser.  
   
          Com base na declaração deste grande trovador, fiquei curioso em saber se  mais gente pensava assim, e, se não fosse o caso, o que pensaria essa gente ser o ideal da UBT? Notem que me refiro às cabeças pensantes da UBT!

           Para isso, em cada festa que frequentei, e em cada entrevista que fiz junto a trovadores consagrados, perguntei, às vezes abertamente, às vezes sub-repticiamente:  ‘Para que a UBT existe? Qual é, afinal, sua missão?’.

          O engraçado é que todos ‘coçavam a cabeça’ diante da pergunta, que, me pareceu, nunca lhes havia ocorrido.

          Para cerca de 90% dos perguntados, a UBT existe para divulgar a Trova. Quando do lançamento do livro Meus Irmãos Os trovadores II, solicitei que me enviassem metáforas a respeito da UBT, que contivessem algum senso de humor. De todas as respostas lugares-comuns que chegaram, houve duas que me chamaram a atenção. A primeira: “A UBT é um grande parque de diversões da terceira idade”. A Segunda: “A UBT criou um novo tipo de diversão: a Festa da Bengala!”

          Como podemos ser uma grande entidade com esse tipo de pensamento? Então, amigos, apesar de reunirmos em nossa agremiação muitos dos melhores poetas, sonetistas e trovadores do país, ainda somos uma entidade sem definição de si mesma. Ainda não sabemos direito a que viemos.

          Num cenário assim ficaria difícil tentar implantar o Programa Juventrova, porque se alguma entidade de ensino nos perguntar:  “O que a UBT pretende em nosso colégio?” e nós respondermos: “Estamos em busca  de novos associados.” Provavelmente seremos motivos de chacota. 

          Então fica claro que o Projeto Juventrova precisa ser algo mais que um sistema de captação de trovadores para suas fileiras.

          Pois bem, pelo rigor semântico que exigimos em nossas composições, ocorreu-me que a Trova pode muito bem ser um excelente auxiliar ao professor de português. Assim, pensei em algumas utilidades que a Trova pode oferece ao professor:

01- Ela serve tanto à análise sintática básica, encontrando o sujeito e o predicado, sujeito oculto separação de sílabas etc. quanto à análise morfológica ao estudar cada uma das diversas palavras em um verso, identificando as dez classes gramaticais: substantivos, adjetivo, artigo, pronomes, numeral, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição. Isso ajuda muito no enriquecimento das rimas.
02- A Trova é um exercício de síntese, que treina o aluno a produzir textos enxutos e não prolíficos.
03- É um exercício de introdução à textos poéticos de uma forma fácil e divertida.
04- Acrescenta motivação ao ato de escrever e poetar, uma vez que se apresenta como um desafio relativamente fácil de ser vencido.
05- Diminui a diferença de desempenho entre os que tem maior ou menor habilidade com as letras, por ser um gênero facilmente inteligível por todos.
06- Se direcionada a este fim, pode se tornar fator de integração social.
07- A trova é, acima de tudo lúdica e pode ser ensinada como um divertimento.
08- Ela desenvolve também o raciocínio lógico, e pode, portanto, pelas mãos de um professor bem treinado, servir de auxílio para outras matérias.
09- Integra do corpo discente e docente, na medida em que une a todos em torno de um objetivo.
10- A Implantação do Projeto Juventrova diminui sensivelmente os conflitos entre os alunos.

 
          Então, com o Juventrova transformado em poderoso instrumento de auxílio ao ensino, já foi possível dar início a um desenho aceitável de MISSÃO  para a UBT. Assim, estabelecemos cinco objetivos como metas a serem buscadas, para o estabelecimento desta missão:
 

1-Desenvolver entre a juventude o interesse pelo estudo do idioma através do Projeto Juventrova.
2 - Melhorar a sociedade em que vivemos através da inclusão de jovens ao universo da Literatura.
3-Levar divertimento como forma de conforto à 3ª Idade
4-Levar diversidade poética às academias de letras
5-Levar cultura e divertimento poético a toda a população.
6-Levar a UBT a ser reconhecida pelo MEC como entidade de utilidade pública.

 
          Isto, nos parece, tem muito mais significado que simplesmente vencer concursos para se divertir, ou pior, se destacar dos demais em busca de elogios e reconhecimento.

          A busca sincera dessas metas - nossa Missão - nos aproximará mais dos prováveis sonhos que Luiz Otávio deve ter sonhado, e transformará a UBT, de observadora passiva a agente ativa  da realidade.
 

DA TEORIA À PRATICA

 
          Com este assunto resolvido, ou seja, tendo argumentos consistentes para apresentar às entidades de ensino, e uma Missão que defina a UBT, então decidimos reunir em São Paulo os Coordenadores do até então Programa Juventrova, num evento que batizamos de I CONAJUVEN - Convenção dos Coordenadores Nacionais do Juventrova.

          Neste encontro o nome adotado foi Projeto, em lugar de Programa, para que não criasse confusão com o termo ‘Programa de Ensino’ dos educandários.

          Durante mais de 10 horas, passamos às 23 pessoas presentes o ‘modus operandi’ do Projeto Juventrova, orientando pormenorizadamente sobre a melhor forma de obtermos resultados, definindo inclusive as ‘regras do jogo’, concursos, premiações, diplomações etc.
O objetivo principal da CONAJUVEN foi também utilizar o Projeto Juventrova como instrumento de incremento de novos associados à UBT. 

          Provavelmente os leitores conhecem o Princípio de Pareto, segundo o qual 80% dos resultados de qualquer trabalho vem de 20% do grupo que se comprometeu em fazê-lo. Já um estudo recente sobre eficácia no trabalho, feito em Stanford, é mais trágico: diz que apenas 5% das pessoas fazem alguma diferença no mundo. Os restantes 95% seguem a manada. No caso da I CONJUVEM, dois meses após o evento, o estudo de Stanford se mostrou correto: das vinte pessoas presentes ao evento, apenas uma mostrou trabalho e resultados. Algumas outras mostraram algum trabalho, mas nenhuma mostrou resultados. Ou seja, 5%.

          Esses 5% veio da UBT São Gonçalo, RJ, comandada  pelo veterano Gilvan Carneiro, que aplicou o Projeto Juventrova de A a Z, demonstrando inequivocamente que a orientação estava certa e que os colégios estão ávidos por algo novo, que facilite o ensino do idioma português.

          O Prof. Renato Cardoso, coordenador do Projeto Juventrova na seção, logo depois promovido a Coordenador Estadual para o RJ, e hoje respondendo pela Coordenação Nacional do Programa Juventrova, não só já conseguiu a adesão de treze colégios como, pasmem! inaugurou no dia 16 de setembro de 2017,  a primeira célula do Programa Juventrova do Brasil, com oito jovens. Quatro deles tiveram sua trovas selecionadas pelo Coordenador e pelo Presidente da seção e podem ser lidas ao final desta coluna. 

          Ele também criou uma novidade importante para a expansão do programa: criou células da UBT dentro dos estabelecimentos de ensino, levando a entidade aos alunos, ao invés de esperar que eles venham à sede da UBT. Isto facilita enormemente a participação dos jovens, uma vez que eles não precisam se deslocar, talvez acompanhados pelos pais, para assistir às reuniões mensais.

          Entusiasmado com os resultados, Renato Cardoso produziu camisetas especiais para o evento do lançamento da Célula jovem e promoveu uma reunião virtual de vídeo do grupo com este editor, via Whatsapp, com o fim de fortalecer ainda mais o vínculo dos jovens com a entidade.

           Outra ideia dele foi montar um grupo, também no Wpp, chamado ‘Juventrova Célula Jovem’, onde todos os jovens da seção participam publicando suas trovas, que são corrigidas  e comentadas.

          Conclusão: de 5% em 5% vai ser um caminho árduo e demorado, mas a seção São Gonçalo nos demonstrou que vale a pena tentar.   
 

Trovas do JUVENTROVA S. GONÇALO

Um coração que se aperta,
enquanto vou me lembrando.
Fico sozinha em alerta,
vendo os segundos passando
Lívia Muchão
 
Em cada felicidade,
há sempre grande tristeza,
também em cada saudade,
há sempre doce beleza.
Yuri Sampaio
 
A saudade inebriante,
em meu corpo prevalece.
É um ritmo aconchegante,
que meu coração aquece.
Thays Medeiros
 
Não se controla a saudade,
que da loucura se atém.
E aplaude a felicidade,
desejando o amor de alguém...
Clarisse Silva