Trovas de Dias Monteiro

Ao mundo, em cuja voragem
homens maus plantam discórdia,
Kardec envia a mensagem
da Paz, do Amor, da Concórdia!

Já que não tenho o direito
de ter a sua afeição,
abre a vidraça do peito
e solta o meu coração!

Em “Urupês”, num só gesto
ao céu da pátria atirado,
lançou Lobato o protesto
do caboclo abandonado!

Meu desejo é bem pequeno:
- Nossa casinha... um ipê...
o campo de aromas pleno...
o luar... o sol... você!

Duvidar ninguém se atreve
de que as estrelas que eu fito
são trovas que deus escreve
no livro azul do infinito!

O dia chega sorrindo! ...
E eu vejo, olhando o arrebol,
mil gotas de luz caindo
da taça de ouro do sol!

Sempre de casa saindo,
eu vejo, olhando os espaços,
a madrugada fugindo,
levando a noite nos braços!

Num botão de rosa aberto
em todo o seu esplendor,
eu vejo de mim tão perto
a festa daquela flor...

Ei-los vestidos de trapos
pedindo roupa e comida;
não são gente, são farrapos
nas reticências da Vida!

Teus contos de raros brilhos,
com tanta ternura e afetos,
direi, Lobato, aos meus filhos
e estes dirão aos meus netos!

Ouvirei, da sepultura,
num suave e terno enlevo,
tu releres com ternura
os versos que hoje te escrevo.

- Via-Láctea, que te espalhas
pelo céu, alguém me diz
que és a poeira das sandálias
de São Francisco de Assis!

Esquece os dias sombrios
que a vida te vem turvar...
Segue o destino dos rios
que, rindo, morrem no mar...

No grande teatro da vida,
sem que movessem cordéis,
eu vi minha alma caída
humildemente a teus pés...

NOTA: As trovas publicadas nesta edição foram extraídas do livro “Barcarola de Sonhos”, de João Dias Monteiro