Maria Helena V. Carvalho - Lisboa/Portugal

          MARIA HELENA VAQUINHAS DE CARVALHO  nasceu em Lisboa, em 29 de março de 1906, filha de David José de Carvalho e D. Hortênsia Vaquinhas de Carvalho.  Muitos livros publicados individualmente, tais como "Amanhecer", "Presença" e "Cântico da Carne" mas marcaram, sobremaneira, dois lançamentos feitos em dueto com o célebre J.G. de Araújo Jorge, chamados: "Concerto a Quatro Mãos" e "De Mãos Dadas". Mantinha laços estreitos com os brasileiros, participava de concursos e até passou uma longa temporada aqui, em 1967.
           Falecida em julho de 1998.  Residia À Rua de Alcolena, 43, Encosta do Restelo - Lisboa/3-PT.

Se a vida não te é guarida,
não a trates com desdém;
que culpa é que tem a vida
das culpas que a gente tem?...

Sempre bem juntos. Depois
chegou a morte sem dó.
E a vida que era de dois       (M. Especial Elos Clube SP 1992)
ficou grande para um só.

Neste carnaval sem fim
do mundo que Deus nos deu,    (co-vencedora em Niterói - 1986)
fantasiei-me de mim
e ninguém me conheceu.

Por seguir atrás do bando,        (co-vencedora em Niterói - 1983)
sem me impor a direção,
eu passo a vida pisando
os passos que os outros dão.

Tua alma, na despedida,
tanto à minha alma se uniu,    (co-vencedora em Niterói - 1982)
que no instante da partida
não sei qual de nós partiu.

Não digas adeus, eu rogo
numa voz molhada de ânsia:    (M. Especial em Niterói - 1982)

quando se diz "até logo",
fica mais curta a distância. 

Neste mundo tão mesquinho
e de tão pouca valia,
quem me dera ser moinho,
se tu fosses ventania!

Carícias audaciosas,
afagos sem terem fim...
- Se as tuas mãos fossem rosas,
era meu corpo um jardim!

Ai! se a gente adivinhasse
o fel que este mundo tem,
por muito que à mãe custasse,
ficava dentro da mãe.

Que feliz a tua sorte!
Tão profundamente humana:
julgas um engano a Morte,
quando a Vida é que te engana!

No meio dos meus cansaços,
em constante preamar,
quantos abraços nos braços,
sem braços para abraçar!

Nasci com asas de espanto
a pedirem ascensão...
Por isso me custa tanto
caminhar rente do chão.

Nada em mim se realiza!
Todos os sonhos morreram!
Como custa ser a cinza
de brasas que não arderam!

Não tenho amor em segredo
que me pese como um lenho,
mas passo a vida a ter medo
de perder o que não tenho.

E eu, que tinha lume e brasas,
vi morrer o fogaréu...
Que triste é ter duas asas,
quando alguém nos fecha o Céu!

Quando um dia se enflorou
o teu beijo em meu redor,
a terra não aumentou,
mas o Céu ficou maior!