Magníficos Trovadores - PEDRO ORNELLAS

     PEDRO  ORNELLAS:  poeta, trovador, sonetista, haicaista, cronista, compositor e intérprete sertanejo, caipira de fato, fascinado pelas maravilhas da criação, reconhecido como um dos melhores trovadores do Brasil, haja visto o título de "Magnífico Trovador" conquistado em ambos os gêneros: lírico/filosóficas e humorísticas.
     
   

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          Paranaense de Marialva, nascido em 26 de maio de 1951, radicado em SP desde 1974, Pedro é reconhecidamente um dos maiores trovadores desse País!

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LÍRICAS, FILOSÓFICAS E AFINS
 

De incompetência dão provas        (1º lugar em Ponta Grossa/PR - 1994)
os meus rabiscos bisonhos:
sobra sonho em minhas trovas,
falta a trova dos meus sonhos!

Ser mãe, é zombar da fome
nos olhos mantendo o brilho,
ao ver o pão que não come
matando a fome do filho!

Sinto em meu quarto sozinho              (3º lugar em Sete Lagoas - 1997)
a Deus pedindo conselhos
que a gente cresce um pouquinho
sempre que dobra os joelhos!

Se canto a felicidade
sou poeta imaginando...
mas quando falo em saudade
eu sei do que estou falando!

Felicidade é conquista
que a gente persegue em vão...
- Sempre ao alcance da vista,
nunca ao alcance da mão!

Felicidade é uma bola,
que a gente, em tola disputa,
corre atrás enquanto rola
quando para, a gente chuta!

Deixando tristes lacunas                         (6º lugar Fortaleza 1989 - Duna)
na vida, curta e fugaz,
os nossos sonhos são dunas
que o vento sopra e desfaz...

Num gesto de amor profundo,       (Menção Especial em Belém - 1991)
pela santa que tu és,
se eu fosse dono do mundo
depunha o mundo aos teus pés!

Sou cobaia do destino
neste ensaio desvairado               (Menção Especial São Jerônimo da Serra - 1994)
de por sonhos de menino
num corpo velho e cansado!

Da própria lógica zomba
teu olhar quando, inconsciente,
mescla a inocência da pomba
e o feitiço da serpente!

Embora a mesa vazia,
mamãe, que os tinha em fartura,
nunca fez economia
de carinho e de ternura!

Na infância, festa de cores,
tudo era encanto e magia
e eu via muito mais flores
além das tantas que havia .

Musa que inspira e magoa,
sempre um mistério profundo...
a mulher que chora à toa
é a mesma que enfrenta o mundo!

Bendito quem no caminho
plantando o amor entre irmãos
tem mãos que se fazem ninho
para aquecer outras mãos!

Se o erro ficou distante                      (co-vencedora em Rio Novo/MG - 1995)
seja pleno o teu perdão;
não se cobra ao diamante
seu passado de carvão!

Resto do sonho que um dia                              (Venc. Barra do Piraí 1999)
não previu restos nem fim,
um resto de fantasia
sustenta o resto de mim!

Arranhavam feito espinho
mas me lembro e o pranto cai...
como era doce o carinho
das mãos rudes do meu pai!

A ciência que eu rejeito
é a que tem a insensatez
de explicar o que foi feito
e afirmar que ninguém fez!

O acerto, sim - amedronta!
mas creio que estamos quites:
para os meus erros sem conta
Deus tem perdão sem limites!

Equilíbrio se requer
Entre o QUERER e o PODER;
só pode ter o que quer
quem quer o que pode ter!

De tudo o que já foi dito
resta dizer que a saudade
é um velho poema escrito
com tinta de mocidade!

Novo rumo, despedida...
e ao pressentir minhas dores
a paineira entristecida
chora lágrimas de flores!

Quando, à noite, em quantidade
voltam lembranças de outrora,
eu posso ouvir a saudade
batendo palmas lá fora.

Enquanto dorme a cidade,
teimoso o poeta insiste...
o tema é "Felicidade"
mas o seu verso sai triste!

Na mente novos enredos
roubam do sonho a importância...
e o tempo, estalando os dedos,
quebra a magia da infância.

O meu sonho de criança,
sem causa e razão de ser,
foi mensagem de esperança
que a vida rasgou... sem ler!

O tempo passou depressa
reduzindo meu anseio
de um "antes" que foi promessa
de um "depois" " que nunca veio!

Tem de amor a vida cheia
quem, prezando bons valores,
grava as ofensas na areia,
porém na pedra os favores!

Sobre esses cachos dourados
que a brisa faz ondulantes
a fama do meu Estado
cavalga em terras distantes!

Ciência alguma eu aceito
que ao fazer do mundo estudo
cuida somente do efeito,
negando a causa de tudo!

Hoje letrado e eminente
sondo meu ego e constato
que eu era muito mais gente
quando era "bicho do mato"!

Quando tropeço não ligo,
nestas andanças que faço
Deus olha o rumo que eu sigo
não a elegância do passo!!

É a solidão que em meus braços,
evocando horas distantes,
ocupa agora os espaços
que teu corpo ocupou antes!

Revoada... o dia claro...
Paz e harmonia no mangue!
E de repente um disparo
mancha a paisagem de sangue!

No trigo que amadurece
e a fome ao pobre sacia
vejo Deus que escuta a prece
pelo pão de cada dia!

Pelos trilhos da lembrança,
a saudade é um trem expresso,
que no vagão da esperança
traz a infância de regresso!

Boêmio das madrugadas,
vendo as estrelas me excito;
são garotas debruçadas
na varanda do infinito!

A brisa da noite mansa
que a sala do tempo invade
sopra as cinzas da lembrança
na lareira da saudade.

Saudade, um sonho guardado...
magia que se eterniza
num filme bom do passado
que o pensamento reprisa.

Mãos dadas, de homens armados,
celebram acordos vãos...
se os corações não são dados,
é inútil darem-se as mãos.

A fome, às vezes, batia
e, embora faltasse o pão,
nunca faltou harmonia
na velha casa de chão!

A vida o drama nos deu
de, juntos, vivermos sós...
sendo apenas tu e eu,
e eu e tu não sendo nós!

O acerto, sim, amedronta!
Mas creio que estamos quites;
eu tenho ofensas sem conta..
Deus tem perdão sem limites!

Surpresa boa e ruim,
o amor, que tarde acontece,
faz do meu peito um jardim
que em pleno outono floresce.

Sonhei, criança, o direito
de um mundo melhor, um dia...
Sem ver que o mundo perfeito
era o mundo em que eu vivia!

Nas andanças sê treinado
- fronte inclinada, não andes!
É quando estás encurvado
que os outros parecem grandes!

Este amor, meu pesadelo,
que nego a todos por teima,
por fora é bloco de gelo...
por dentro - fogo que queima!

Por mais que seja aplaudida
não dura a glória farsante
dos que subiram na vida
pisando em seu semelhante!

Ao partir, deixando o norte,
uma lagrima ensaiou...
mas a seca era tão forte
que ate seu pranto secou!

Meu pai, colono de raça,

desbravador do sertão,
não deixou busto na praça
mas deixou marcas no chão!

Ouço um tropel de boiada,
olhoa estrada, olho a distância...
Mas o som não vem da estrada,
- é tropel que vem da infância!

Preparando a mordomia
da mascote do patrão,
quanta gente gostaria
de levar vida de cão!

Pedro, meu pai, como é dura
a carga que me impuseste,
de honrar e viver à altura
do teu nome, que me deste!

Não há razão que comporte
a ironia descabida
de ter que aceitar que a morte
também faz parte da vida!

 

TROVAS HUMORÍSTICAS
 

O garotinho ao credor
que na porteira insistiu:
-Papai não está, senhor...
mandou dizer que saiu!

"Papai saiu..." no portão,
diz Huguinho ao cobrador.
"Vá chamar mamãe, então".
"Também se escondeu, senhor!"

Quando da igreja voltavam
ficou "grilado"  o Castilho;
sobre a noiva o que jogavam
não era arroz - era milho!

Na pesca, vendo a "fumaça",
naquela manhã de frio,
grita o luso: "Que desgraça!
Botaram fogo no rio!"

Por capricho do destino,
quando a lambada esquentou,
ouviu-se um tango argentino
e o canarinho "dançou" ...

Na recepção dá vexame
o carcará Zé Diogo,
quando pergunta à madame
se por acaso tem fogo! "

Cobra demais o oculista!"
De queixar-se o Zé não pára:
"Aquele exame de vista
custou-me os olhos da cara!"

Assisto à copa e me zango
vendo a cena inusitada:
Uma só nota do tango
vence as onze da lambada!

Quis arranjar casamento
mas só ganhou do paquera,
no verão, o acampamento...
e um bebê na primavera!

Por mais que me finja nobre,
eis a verdade chocante :
- Rico só lembra de pobre
quando vai fazer transplante.

Na porteira, o João dizia,
ao ver partindo a donzela:
"Se eu pudesse amá-la-ia...
porém não posso amar ela!"

A sogra mal, e o Fernando:
"Há um atalho na avenida!"
a ambulância entrou 'voando'
- e era um beco sem saída'.

Da defunta a dentadura                          (co-vencedora UBT SP - 2006)
cai... o Zé pisa e se corta...
A sogra é parada dura:
morde até depois de morta!

Querendo ajudar, o Roque,
agiu com boa intenção:
quando leu "Queima no Estoque"!
botou fogo no galpão!

Tenta acendê-lo a "patroa",
mas todo o esforço fracassa.
pois o fogão do coroa
não dá fogo... é só fumaça!

Caiu no riso a brigada
quando o luso trapalhão,
chegou trazendo uma escada       (5º lugar em Sete Lagoas - 1995)
e o incêndio era no porão!

''Quantas vezes foi beijada?"
E ela diz: "Esta é a primeira..."
E bem baixinho, a safada: " ...
este mês, nesta porteira!"

"Vai lá ver se chove ou não"     (1º lugar Friburgo 1998 - "Preguiça")
e o filho (também deitado):
"IR LÁ PRA QUE? Chama o cão
e vê se ele tá molhado!"

O pato teve um ataque                 (co-vencedora em São Paulo - 1992)
quando a casca se partiu;
ansioso, esperava um “Quac!”
e o que escutou foi um – “Piu”!

Cai lá fora a chuva fina
mas não esquento a moringa;
meu refúgio é o bar da esquina,     (M. Especial Nova Friburgo-1986)
onde não chove... só pinga!

Mandou fazer, a bandida,
cartões que a todos quer dar;
tornou-se a mulher "perdida"
mais fácil de se encontrar!

A situação tá tão feia,
minha grana tão escassa,
que o vizinho churrasqueia
e eu passo o pão na fumaça!

Ando tão ruim de memória     (Venc. I Conc. do CCT, Rio de Janeiro-1985)
que nem calcula o senhor...
- E desde quando, senhora?
- Desde quando o que, doutor?