Trovadores Inesquecíveis II - Maria Dolores Paixão Lopes

 TROVADORES   INESQUECÍVEIS   II  -

MARIA DOLORES PAIXÃO  LOPES
(texto de Thereza Costa Val, da UBT Belo Horizonte, para www.falandodetrova.com.br)
 

          Quando conheci Maria Dolores Paixão Lopes, na UBT de Belo Horizonte tive a sensação de que já éramos amigas de longa data.  Não que eu não a tivesse visto antes. Conheci-a na adolescência, pois morávamos no mesmo bairro, mas nunca trocamos uma palavra ou cumprimento sequer. Cruzávamos nossos caminhos pelas  avenidas do bairro e não tínhamos amigas em comum. Mas eu sabia que seu nome era Lola. Não sabia se ela conhecia meu nome. Éramos, ambas, de famílias conhecidas e tradicionais.

         Muitos anos mais tarde, eu a conheci  na UBT. Lola, como ela era conhecida entre os amigos, era ótima trovadora,  excelente amiga, companheira sincera. Era casada, tinha uma família feliz e tranqüila, aparentando ser uma pessoa privilegiada. Esposa feliz,  mãe dedicada de três filhos e uma filha, tinha quatro netos que amava.

         Sempre espirituosa,  contava  casos hilários a respeito de suas distrações e atos falhos, com a graça de boa narradora, sempre carregando  um pouco a tinta em algum detalhe da narrativa.

        Viajei com Lola a Nova Friburgo  por duas vezes. Na primeira vez, ficamos juntas com Therezinha Diegues Brisolla no mesmo quarto, no hotel de dona Irene, e passamos a noite contando casos e rindo. Deixamos de ir ao Baile das Musas, pois a noite estava gelada. Na manhã seguinte, dona Irene, amiga que era,  muito interessada,  quis saber  o que houve de tão engraçado  que nos fez rir tanto, noite a dentro...

         Noutra ocasião, junto de Ivone Taglialegna Prado, ficamos quase toda a tarde sentadas no gramado daquele mesmo agradável Parque Hotel, relembrando os casos  divertidos de Lola.  Se deixasse, era bem  capaz de   perdermos alguma programação, tão entretidas ficamos na conversa interminável. Tempo bom aquele!

        Maria Dolores Paixão Lopes era  muito premiada. Sonetista e trovadora exímia, brilhava tanto na composição de trovas líricas e filosóficas, quanto nas  humorísticas. Infelizmente, a não ser pelas participações nas coletâneas de nossa UBT e dos livros de concursos, Lola não deixou um livro de sua autoria para nossa apreciação. Segundo relato de sua filha, Lola nunca manifestou vontade de publicar seu próprio livro.

         Sua última participação foi na Coletânea de 2002, denominada “Garimpo de Sonhos”, na qual sua filha Luciana prestou-lhe homenagem póstuma, fazendo publicar 40 de suas trovas. Lola já tinha ocupado o seu cantinho na UBT/ Céu  em setembro de 2001.

         Espírito forte, alma sensível, Lola não se deixou abater na doença e continuou a participar de concursos, tendo sido Vencedora no Concurso Interno de 2000, da UBT /BH, e obtido MH no Concurso de 2001, do qual não pode  participar na última fase.

       Maria Dolores Paixão Lopes era formada em Pedagogia e Didática na PUC/ Minas, tendo feito Pós-graduação e numerosos cursos de aperfeiçoamento  profissional.

      Abaixo,  algumas trovas  inesquecíveis  de sua  autoria:
 

Do sentimento à razão                    Eu serei a vida inteira
vive o homem seu conflito:             por você, o que quiser...
tendo os pés presos ao chão,          esposa, mãe, companheira,
deseja o espaço infinito!                  ou, simplesmente, mulher!

Magia... posso entendê-la                Uma lágrima sentida,
na inspiração que me embala:          um sorriso, um bem-querer,
é desejar  uma estrela                       são detalhes de uma vida  
e conseguir alcançá-la!                     que vale  a pena viver!

Do  Aleijadinho os entalhes              Segue, filho, a tua estrada 
( madeira e pedra-sabão )                 sem entrar pelos desvios,
mostram do artista, em detalhes,   pois só vence a caminhada       
a tristeza e a solidão!                     quem enfrenta os desafios!

Teus momentos de partida,            O receio  que me alcança,
meus momentos  de chegada...      ao ver inverno chegar,
Nossa vida é resumida                    é que, perdida  a esperança,    
nos desencontros da estrada!         eu  já nem possa sonhar!...

Na rede, a se espreguiçar,              “Limpou” o supermercado
diz o Zeca com voz mansa:             e desculpou-se ao ser presa:
- Mulher, pára de empurrar!            - Não é roubo, delegado,
Balançar também me cansa!...         é  mania  de limpeza!