Hildemar de Araújo Costa - Salvador/BA

HILDEMAR DE ARAÚJO COSTA  nasceu em Salvador, em 11 de setembro de 1932.

Sem cartola e sem magia,
tem muito lalau que enrica!    (Ribeirão Preto - 2001)
A verba segue outra via
e somente fraude explica.

Quem mergulha na descrença
tem a vida fracassada,
pois nada existe que vença
a derrota antecipada.

Aos criminosos tiranos
oferecem o conforto!
Negam direitos humanos
para a família do morto.

Neste mundo eu pouco somo,
e fiquei dele à mercê.
Se cheguei sem saber como,
volto sem saber porque!

A vida tem um mistério
que ninguém desvenda, eu juro.
As cruzes do cemitério
lembram passado ou futuro?

Paciência é como chave
que gira com lentidão,
mas vence qualquer entrave
na porta da solução.

A paz que tanto buscamos
para a sofrida existência,
depende do que guardamos
no cofre da consciência.

Pesares da consciência
são produtos do passado,
lembram o trem da existência
nos desvios do pecado.

Um pássaro engaiolado
qualquer maldade suplanta.
Pois ele foi condenado,
simplesmente porque canta!

Quem não calcula a descida
e faz da droga um suporte,
cai do trapézio da vida
na rede fria da morte.

A droga faz os vencidos
e o jovem depressa nota
a falência dos sentidos
na vitória da derrota.

Estou confuso porque
minha vida teve fim!
De tanto lembrar você,
há muito esqueci de mim.

Sem fé e sem consciência
o mortal segue o regime
de plantar a violência
e depois colher o crime.

Vencido pela saudade
recordo o mal que me fiz;
buscando a felicidade,
esqueci de ser feliz.

Todo homem é na verdade
um cativo até morrer;
para ter a liberdade,
fica escravo do dever.

No meu sonho imaginário
seu vulto, sempre persigo.
E quanto mais solitário,
mais sinto você comigo.

Nos delírios dos teus beijos
eu travei ferrenha luta
para acalmar meus desejos
sem manchar tua conduta.

Todo conto de vigário
encerra duplo sentido:
há sempre um sabido otário
e um otário mais sabido.

O mundo neste momento
está meio atrapalhado,
tem falta de casamento
e sobra de batizado!

Na vida o que me consome
eu revelo num segundo:
é ver pai, passando fome,
botar mais filho no mundo.

Neste mundo de amargura,
onde impera muita fome,
quem com porcos se mistura
tem sorte, farelo come.

Nesta trova pequenina
eu digo e não me atrapalho:
a greve da medicina
deixa a morte sem trabalho.

A gente nasce chorando
e morre sempre calado:
na vida vem reclamando,
na morte vai conformado.

A minha vida eu resumo
em dois versinhos banais:
é como um barco sem rumo
na fúria dos temporais.

Solidão é na verdade
como praga deste mundo,
é o tédio em velocidade
na lentidão do segundo.

Da vida bem pouco resta
depois que a velhice ataca,
é como sair da festa,
para curtir a ressaca.

O nordestino, na rede,
sente medo permanente:
- Teme o sol trazendo sede
e a chuva causando enchente.

Quem canta males espanta,
eu sei melhor que ninguém;
mas às vezes, de quem canta,
quem ouve foge também.

Todo fato neste mundo
tem outro fato ligado,
em casa de vagabundo
relógio fica parado.  

Deixe o copo de bebida,
dizia a mãe de Maneco.
Em respeito à falecida,
ele bebe no caneco.