Da lista "oficial" de Julgadores à "Homologação" obrigatória.

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UBT:  Da lista “oficial” de Julgadores à “Homologação” obrigatória:

(Renato Alves)

            Nada mais natural do que uma entidade que congrega trovadores trabalhar para que os concursos organizados em seu nome se aprimorem em qualidade. Foi assim que entendi a criação da “lista oficial de avaliadores”, ainda na administração anterior à atual. 

              Mais recentemente, alegando o mesmo propósito de “zelar pelo bom nome da Trova”, a UBTN criou a “homologação obrigatória” de resultados, atribuindo a si própria a condição de um “Tribunal Superior”.  E, agora, vejo que, numa escalada crescente de “zelo perfeccionista”, a UBTN começa a condenar trovas que, muitas vezes, foram julgadas e aprovadas até por avaliadores credenciados por ela mesma em sua “lista oficial”. 

             Este foi o caso recente de uma trova no resultado dos Jogos Florais de Niterói - tema “Arlequim”, impugnada, no meu ver, por um equívoco de interpretação do Art. 8º do Decálogo de Luiz Otávio.  No entanto, como sempre, não foi dada à coordenação do concurso a opção de discutir a “impugnação” ou recorrer dela, pois a comunicação nestes casos é simples e direta: “substituir a trova que contém um verso errado!” Coube a mim, então, por ser um dos julgadores daquela trova, orientar a coordenadora para que ela apresentasse um recurso contra a decisão equivocada. E fiz isto após consultar oito eméritos trovadores, cujos nomes não cito para não incluí-los desnecessariamente no caso. Dos oito consultados, sete declararam não ter encontrado qualquer erro na trova impugnada. 

             Tenho motivos pessoais para afirmar que esta homologação obrigatória não está sendo aplicada apenas às trovas. Há pouco tempo, tive o desprazer de constatar que, no último concurso intersedes, organizado pela UBT-Rio, cujo resultado, em obediência às normas da UBTN, enviei para “homologação”, houve diligências (?) para verificar se minhas informações sobre a filiação do vencedor a uma determinada seção eram, de fato, verdadeiras. Ora, isto cria um clima de desconfiança nos promotores de concursos que considero inaceitável com relação ao trabalho das seções. 

             Rogo aos meus leitores que interpretem este desabafo não como uma crítica a qualquer medida de controle da atividade trovadoresca, pois este é um direito legítimo da UBTN.  Gostaria, porém, de ver este direito exercido com mais humildade, condição tão necessária à promoção da harmonia entre os irmãos-trovadores. Que, ao se impugnar qualquer trova, seja fundamentado o motivo da impugnação, e se procure conhecer respeitosamente as opiniões divergentes. E, considerando que Métrica e Rima são fenômenos fonéticos (e Fonética é uma ciência, portanto não admite achismos), que não se pretenda impor pontos de vista pessoais quando houver divergências; é preciso sempre levar em conta a complexidade do assunto. Dúvidas pairam entre os trovadores há décadas, e muitas vezes são geradas por má interpretação do Decálogo de Luiz Otávio, que também é inconclusivo em muitos casos.

            Enfim, meus irmãos-trovadores, “vamos viver de mãos dadas”! Tenho a certeza de que não é com canetadas, com lista de credenciados ou com homologações obrigatórias, que se vai pacificar certas divergências entre nós. O meu sonho maior sempre foi ver todos nós trabalhando pelo enriquecimento do CONTEÚDO das trovas, dos achados, do uso enriquecedor de figuras e imagens, e não procurando com uma lupa negacionista os “erros” de FORMA que, às vezes, inviabilizam boas trovas. Fico pasmo diante de certas instruções oficiais que mandam, por exemplo, não aproveitar um trabalho, às vezes com um achado criativo, porque o autor iniciou os versos com letras maiúsculas ou escreveu a trova em caixa alta. Os fundadores do moderno trovismo brasileiro, toda a família real da Trova (Adelmar, Lilinha, Luiz Otávio), não seguiam certas “normas” que a UBTN foi criando exaustivamente através dos anos, desejando ser “mais realistas que o rei”.  Vejam, por exemplo, a trova abaixo, transcrita da Pág.8 do Libreto dos XXII JF de Curitiba-2023, em que Luiz Otávio inicia todos os versos com letras maiúsculas e contraria a recomendação do seu Decálogo (não usar dois critérios diferentes na mesma trova):

Haveria paz na terra
Não / se/ri/a a / vi/da in/quie/ta
Se a criança em vez de guerra

Brin/cas/se / de / ser / po/e/ta.    (Luiz Otávio) 

             Como Luiz Otávio, o Príncipe, eu amo a trova em sua simplicidade: “Ó trova, simples quadrinha que traz toda a alma do povo”. Como Adelmar Tavares, o Rei, também estranho o excesso de legislação sobre o fazer trovadoresco: “Não se dê regras à trova / que a trova regras não tem. / A trova é simplicidade, / ela vai, como nos vem.../”   É o que penso!   Saudações trovadorescas!                     (RA)

 

OBS: texto de Renato Alves, publicado no site www.falandodetrova.com.br em 29.10.2023