Trovadores Inesquecíveis XIII - Conceição Piló

Trovadores Inesquecíveis

XIII - Conceição Piló
(texto de Thereza Costa Val, da UBT Belo Horizonte, para www.falandodetrova.com.br)

 

         No dia cinco de julho de 2011, o jornal de maior circulação de Belo Horizonte publicou, com destaque e foto, a notícia da morte da “guardiã do palácio”. Quem era a guardiã do palácio?  Que palácio é esse?

 

         Durante 30 anos, a museóloga, artista plástica, pesquisadora, historiadora, crítica de arte,  poeta e trovadora Conceição Piló foi responsável  pela preservação do Palácio da Liberdade, sede simbólica do Governo de Minas Gerais, situado à Praça da Liberdade, ofício que ela amava com paixão. Sua atividade como curadora do Palácio teve início na década de 80, quando foi  chamada pelo então governador  Francelino Pereira, e só foi interrompida em 2010 pelo agravamento  da doença que a acometeu.  Durante  esse longo tempo, Piló teve oportunidade  de conviver de perto com todos os governadores que se sucederam na história  de Minas Gerais.

 

         Não poderia deixar de ressaltar essa atividade profissional  de Conceição Piló, não só pela importância do cargo, mas principalmente pela dedicação, discrição e seriedade com que foi exercida.

 

         Conceição Piló tinha alma de artista: desenhava, fazia gravuras, pintava quadros, tecia versos – muitos de louvação a personagens da história mineira, a locais de nossa terra e a figuras passadas e atuais, merecedores de sua admiração – além de também fazer trovas, quando  desejasse. Muito culta, conhecedora da história e do patrimônio do Estado, antes de trabalhar na preservação dos pertences do palácio, Conceição foi diretora do Museu de Arte da Pampulha, pertencente à Prefeitura de Belo Horizonte. Quer dizer, ela sempre viveu e conviveu com a arte em suas diversas formas.

 

         Ser trovadora  não era a sua principal preocupação, certamente em razão das muitas funções e atividades artísticas e profissionais que exerceu ao longo de sua vida. Contudo, Conceição sabia fazer trovas. Deixou presença marcante na última coletânea lançada pela UBT/ Belo Horizonte, em 2010, chamada “Trovas Mineirianas”, pois foi a autora da ilustração da capa do livro. O trabalho artístico é uma gravura do objeto de sua paixão: o Palácio da Liberdade.  Na coletânea, como os demais participantes, Conceição publicou quinze trovas de sua autoria. Participou também da coletânea “Garimpo de Sonhos” , de 2002, com vinte trovas.

 

        Natural de Belo Horizonte, onde sempre viveu, quase sempre o tema de suas trovas é a exaltação da beleza de locais da cidade, do bairro onde residiu por muitos anos, mesclada com a lembrança de tempos  vividos. Piló acompanhou muito do crescimento de Belo Horizonte que, pode-se dizer, ainda é uma cidade jovem.

 

        Sua arte foi mostrada em exposições individuais em Portugal: Viana de Castelo, Porto, Guimarães, Lisboa, Estoril, Évora, além de outras  cidades e países da América do Sul, do Norte e da Europa, como Buenos Aires, México, Nova Jersey, Washington, França, Espanha, Itália, Alemanha, Mônaco, participando de bienais e salões internacionais com inúmeras premiações.

 

       Com  diversos cursos de Educação e Cultura no Brasil, ela foi distinguida pela Fundação Calouste Gulbenkian com um estágio de dois anos na Europa, quando dedicou-se à Museologia  e Artes no Instituto de Restauro José de Figueiredo, Museu de Arte Antiga, Escola Nacional de Belas Artes de Lisboa, Fundação Espírito Santo de Lisboa, Atelier de Gravura de Lisboa e Museu da Fundação Calouste   Gulbenkian.

   

         Conceição Piló foi também muito ligada à literatura, sendo membro efetivo da Academia Feminina Mineira de Letras, da Academia Municipalista de Minas Gerais, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, da Arcádia de Minas Gerais e da União Brasileira de Trovadores de Belo Horizonte.

 

         Deixou vários livros publicados, de poesia, de documentação histórica e artística.

 

         Selecionei algumas de suas trovas, em que ela exalta cidades, localidades, objetos de amor e recordações, bem como outras  de sentido puramente sentimental.

     

         “Palácio da Liberdade”               Os meus dias se aqueciam

         assim ficou nomeado                  com papai  ao violão. 

         no ideal desta cidade                   Com mamãe todos cresciam

         e na glória do passado.                pela voz do coração.

 

         Lisboa toda floria.                       No meu imenso universo

         Com seu fado, me encantou.      busco a beleza do amor  

         Naveguei nesta magia                 e a poesia  do meu verso            

         que em meu peito, então, ficou. mescla magias da cor.   

 

         Aveiro exibe pesqueiros              Veste-me a dor da saudade      

         com  sol na rede dourada.            no caminhar da existência,

         Traz nos sonhos dos veleiros       percorro minha cidade

         riqueza do mar, pescada.              na mais doce convivência.

 

         Nos caminhos das Gerais             Das saudades vão fluindo

         temos sagrados cenários:             lembranças das gerações,

         relíquias que são portais              sementeiras produzindo

         de lavores centenários.                 paz e amor nos corações.

 

         Belo Horizonte altaneira,            Se a tristeza me deprime

         berço nobre de imortais,              vou em busca da poesia, 

         de nosso Estado é a primeira,      não há nada mais sublime      

         no horizonte das Gerais.              do que a rima da  alegria.

 

         Pelas ruas de emoções,                Lusofonia alcançando

         subia o bonde e descia!                vejo a cultura existir!

         Com prédios e construções,        Museologia ensinando

         Belo Horizonte crescia!               encontro Deus a sorrir.   

         

         Hoje o silêncio renova                 Lá no azul da noite, a estrela

         a orquestra familiar,                     mostra o infinito da vida:

         mas a lágrima comprova              findando a luz, posso vê-la  

         toda a saudade de um lar.             chorar por sua partida.

 

         A dinâmica museóloga Conceição Piló faleceu aos 89 anos, deixando uma lacuna nos meios sociais, artísticos e culturais da capital mineira. O atual governador e seu antecessor   manifestaram o  pesar pelo passamento, exaltando  a importância de sua presença constante no Palácio da Liberdade, onde ela fez parte da história.

 

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THEREZA COSTA VAL, brilhante trovadora brasileira, é associada e dirigente da UBT, seção de Belo Horizonte. E nossa gentil colaboradora.