Aparício Fernandes e Jorge Piñero Marqués

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(texto de José Fabiano, mineirim de Uberaba)

APARÍCIO FERNANDES e JORGE PIÑERO MARQUÉS 

     Certa vez, no ônibus que nos levava para um dos Jogos Florais de Nova Friburgo, João Rangel Coelho estava conversando com a queridíssima (de nós todos) trovadora Magdalena Léa, que, segundo o A. A. de Assis, é o único broto com mais de cinquenta aninhos. Na ocasião, Magdalena mostrava ao Rangel uma fotografia de suas filhas (dela). De repente, o Aristheu (Bulhões)interrompe a conversa para dizer ao Rangel a centésima trova que havia improvisado. Este, que escutara pacientemente as outras noventa e nove, não agüentou mais. Virando-se para Magdalena e apontando a fotografia, saiu-se com esta:

As tuas filhas são belas,

são uns primores de Deus.

Eu adoro os ares delas,

mas detesto os aris... teus! 

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       Certa vez conversavam alguns trovadores quando notaram que, um pouco adiante, dois padres trocavam idéias sobre o controvertido assunto do celibato sacerdotal. Imediatamente, o trovador A. A. de Assis aproveitou a circunstância para ironizar:

Parece incrível, de fato:

os padres, neste momento,

lutam contra o celibato,

e nós  – contra o casamento! 

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       Em outra ocasião, Colbert Rangel Coelho, integrando um grupo de trovadores que viajavam para participar de uns Jogos Florais, teve a sorte de, no ônibus, sentar-se ao lado de uma moça muito bonita, mas calada e compenetrada. Colbert ficou quietinho, mas, na primeira parada, ao descer para o cafezinho, piscou o olho e nos segredou:

Eu sentado na beirada,

ela junto da janela.

Graças às curvas da estrada,

vou sentindo as curvas dela... 

*******

       Exemplo da vivacidade dos trovadores sucedeu quando Hebe Camargo entrevistou Anis Murad e Zálkind Piatigorsky, em seu programa na televisão, cujo nome era O Mundo é das Mulheres. Anis foi cavalheiresco, saudando Hebe desta forma: 

Terás, mulher, se quiseres,

o mundo inteiro a teus pés,

porque o mundo é das mulheres

que forem como tu és.

       Lisonjeada, Hebe voltou-se para Zálkind, indagando: "Você também concorda que o mundo é das mulheres?", ao que Piatigorsky rebateu na hora: 

Seja, pois, como quiseres,

que dá  certo, felizmente:

este mundo é das mulheres

... e as mulheres são da gente! 

       Até aqui, os amigos leram o que transcrevi do livro do grande Aparício Fernandes intitulado "A Trova no Brasil – história & antologia.  

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       Em prosseguimento, e para terminar, transcrevo, tal como está escrita, a seguinte carta: 

Santa Fé, Argentina, 13-9-85

Preçado José  Fabiano: 

     Obrigado pelos seus parabens, e pela sua obra “Caixinha de trovas”.

     “Caixinha de Trovas” e uma “ópera prima” no género, aparentemente fácil das mesmas.

     Acredito que é pouco o que se pode dizer das mesmas, logo das breves e verdadeiras palavras do prologuista. Jose Fabianoxxx, referindo embora a um outro livro do autor (Peregrinando): “trovas muito bem feitas, cheias de vivencia e de graça”. Do prólogo apenas rejeito o conceito citado de Hermann Hesse, tudo o demais é certo.

      Em homenagem ao autor vou traduzir apenas a última trova da primeira página do livro ao espanhol: 

Haces bien y mientras tanto

te hieren com um vanablo;

pero... quién se volvió santo

sin abogado del diablo? 

      Pode-se ver nestas trovas, não somente “A lira optimista, mas uma profundidade fruto da vida, da experiência e do domínio das penas... já  que digo domínio das penas, José  Fabiano domina tanto a penador, como a pena de escrever.

      Vou traduzir uma outra que confirma o dito (a segunda da página 12) 

Puede que el hombre consiga

conocer su valor justo:

entonces dudo que diga

que há tenido “mucho gusto”. 

      Parabens e, como diz ETW, abraços trovistas de 

Jorge Piñero Marqués

Diretor da FEBET

C.C. 566 (3000) Santa Fe, Argentina 

P/d  gostaria um meu livro em castelhano? 

Esclareço alguns pontos do que diz o autor da carta: 

“Do prólogo apenas rejeito o conceito citado de Hermann Hesse... “ 

Em seu belo prefácio escrito em 01/03/1984, o Professor Fausto De Vito afirma: 

“Pensando bem, até que ponto não podemos dizer, com Hermann Hesse, que os imortais não gostam de coisas que devem ser levadas a sério e preferem gracejar? ‘A seriedade – diz ele – é uma conseqüência do tempo; consiste numa superestimação do tempo’. E, falando metafisicamente o autor de ‘O Lobo da estepe’, na eternidade não há tempo; a eternidade não é mais que um momento, cuja duração não vai além de um gracejo... 

******* 

Fazes o bem e, no entanto,

sofres tanto menoscabo.

Alguém já se tornou santo

sem o advogado do diabo? 

Haces bien y mientras tanto

te hieren com um vanablo;

pero... quién se volvió  santo

sin abogado del diablo? 

******* 

Caso um dia o homem consiga

a si mesmo conhecer,

duvido que ele então diga

que teve “muito prazer”... 

Puede que el hombre consiga

conocer su valor justo:

entonces dudo que diga

que há  tenido “mucho gusto”. 

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ETW: as iniciais de Eno Teodoro Wanke 

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Texto postado em 15.01.2010