Antonio Nobre

     ANTONIO PEREIRA NOBRE, considerado um dos mais perfeitos poetas da língua portuguesa, morreu prematuramente. Nascido na cidade do Porto a 16 de agosto de 1867, passou a sua infância em Trás-os-Montes e na Póvoa de Varzim. Formou-se na Escola Livre de Ciências Políticas de Paris, em 1895. Sua única obra publicada em vida: "Só" (poesias) foi lançada também em Paris, em 1892. Talvez a obra mais triste da literatura portuguesa. Morreu, tuberculoso, na Foz do Douro, em 18 de março de 1900, com apenas 33 anos.

Nossa Senhora faz meia
com linha feita de luz;
o novelo é a lua cheia,
as meias são pra Jesus!

 

Ó boca dos meus desejos,
onde o padre não pôs sal,
são morangos os teus beijos,
melhores que os do Choupal!

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Os dados a seguir foram extraídos do
http://memoriarecenteeantiga.blogspot.com/2010/11/quadras-de-antonio-nobre.html

1
Tristezas têm-nas os montes,
Tristezas têm-nas o céu,
Tristezas têm-nas as fontes,
Tristezas tenho-as eu!

2
Ó choupo magro e velhinho,
Corcundinha, todo aos nós:
És tal qual meu avôzinho,

Falta-te apenas a voz. 
3
Minha capa vos acoite
Que é p'ra vos agazalhar:
Se por fóra é cor da noite,

Por dentro é cor do luar...

4
Ó sinos de Santa Clara,
Por quem dobraes, quem morreu?
Ah, foi-se a mais linda cara
Que houve debaixo do céu!

5
A sereia é muito arisca,
Pescador, que estás ao sol:
Não cai, tolinho, a essa isca...
Só pondo uma flor no anzol!
6
A Lua é a hostia branquinha,
Onde está Nosso Senhor:
É d'uma certa farinha
Que não apanha bolor! 

7

Tem por abelhas os sons
Que fabricam, valha-me isso,
Fadinhos de mel, tão bons... 

8
Vou a encher a bilha e trago-a
Vazia como a levei!
Mondego, qu'é da tua agoa?
Qu'é dos prantos que eu chorei?
 
9
A cabra da velha Torre,

Meu amor, chama por mim:
Quando um estudante morre,
Os sinos chamam, assim.
10
- E só porque o mundo zomba
Que poes luto? Importa lá!
Antes te vistas de pomba...
- Pombas pretas tambem há!
11
Terezinhas! Ursulinas!
Tardes de novena, adeus!
Os corações ás batinas
Que diriam? Sabe-o Deus...
12
Ó boca dos meus desejos,
onde o padre não pôs sal,
São morangos os teus beijos,
Melhores que os do Choupal.
13
Manoel no Pio repoisa:
Todos as tardes, lá vou
Ver se quer alguma coiza,
Perguntar como passou.
14
Agora, são tudo amores
A roda de mim, no Caes,
E, mal se apanham doutores,
Partem e não voltam mais...
15
Aos olhos da minha fronte
Vinde os cantaros encher:
Não ha, assim, segunda fonte
Com duas bicas a correr!
16 

Meu violão é um cortiço,
Os teus peitos são dois ninhos
Muito brancos, muito novos
Meus beijos os passarinhos
mortinhos por porem ovos...
17
Ó Fogueiras, ó cantigas,
Saudades! recordações!
Bailae, bailae, raparigas!
Batei, batei, corações!
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António Nobre, in ''