Antonio Carlos Teixeira Pinto

   nasceu em Campos/RJ, filho do também poeta Pedro Teixeira Pinto e de D. Maria da Silva Pinto, no dia 07 de julho de 1931. Fez seus primeiros estudos em Ubá/MG. Colou grau em Direito na "Federal" de Juiz de Fora. Publicou em 1961 o livro "Orvalho da Manhã". "Magnífico Trovador" em todos os âmbitos, é um dos mais competentes trovadores brasileiros. Atualmente reside em Brasília.

                      TROVAS LÍRICO/FILOSÓFICAS

 

Ruinas, teias de aranha,
o silêncio do quintal...
Se esta dor não me acompanha,       (Nova Friburgo - 1969)
o abandono era total...

Fibra, amor, eu tive um dia:            (8º lugar em Nova Friburgo - 1974)
foi triste a separação...
- Apertei-te a mão vazia
e enchi de adeus minha mão!

Quando em cismas eu mergulho,      (co-vencedora em Niterói - 1975)
dando um balanço na dor,
ponho na conta do orgulho
minha falência no amor!

 

(foto "roubada" do Blog de Pedro Mello).  Antonio Carlos Teixeira Pinto está à frente, de calça jeans. Logo atrás, Pedro Mello, Waldir Neves e Sérgio Bernardo.

A primavera da vida
vi morrer, ardendo em ânsia,            (3º lugar em Porto Alegre - 1979)
naquela calça comprida
que encurtou a minha infância!

Já temendo um desengano,
fui ver meu circo de outrora:       (Menção Honrosa em Rio Novo/MG - 1992)
saí por baixo do pano
e vim chorar aqui fora!

Se tu jamais foste minha,              (Menção Honrosa Rio de Janeiro - 1994)
se nunca fui teu também,
posso ir só, que irás sozinha...
Ninguém perde o que não tem!

Eu não consigo, alvorada,
de forma alguma entendê-la:          (1º lugar em Pouso Alegre, 1995)
a cada flor despertada,
ter de morrer uma estrela.

Trouxe-me a brisa, bem mansa,      (2º lugar em Ribeirão Preto - 1996)
uma canção de embalar...
Com ela veio a criança
que a saudade foi buscar!

Tinha no olhar tanto brilho,           (3º lugar em Pouso Alegre - 1998)
tal força nos firmes passos,
que não carregava um filho:
- levava o mundo em seus braços!...

A noite é de apoteose
pois, no horizonte, o luar               (3º lugar Pouso Alegre 1999)
alveja a linha que cose,
ponto a ponto... céu e mar!

Eu te amo! E ainda perguntas
se há jura em minhas respostas...
Não vês que as nossas mãos juntas
valem mais do que mãos postas?

Por mais que seja insensata
minha forma de viver,
bendigo a dor que me mata,
mas deixa o verso nascer...

Ah, por favor, não me peças
promessas, que me pões tonto...                    (Vencedora em Niterói - 2005)
- Quem ama não faz promessas,
entrega-se todo... e pronto!

...Aí chegou a saudade,
foi apertando... apertando...
quando doeu de verdade,
peguei o orgulho chorando!

Pudesse, mãe, a lembrança
recompor o antigo lar...
Eu -- voltar a ser criança;
você... somente voltar!

Não dou revide ao seu gesto,
por esta simples razão:
- pesa bem mais que o protesto
a leveza do perdão!

Luiz Otávio, eu me lembro...
Friburgo em maio, como era:
- jamais esperou setembro,
para entrar na primavera !

Minha mãe não teve escola,
sempre a lutar, noite e dia,
mas a vida lhe deu cola
de toda a sabedoria!

Faltou-me talvez coragem,
e, por medo de chorar,
não abri sua mensagem.
- E ela queria voltar...

Nosso amor é um retrocesso,
pelo orgulho que nos cega:
- eu desejo... mas não peço;
ela quer... mas não se entrega.

Eu creio que ninguém vai
no meu dilema dar jeito,
pois a lágrima que cai
está vazando é do peito !

Eu trouxe tanta saudade,
tanta saudade deixei,
que há um dilema de verdade:
será que eu vim, ou fiquei ?!

Nos meus dias mais tristonhos,
do peito rompendo a grade,
a procissão dos meus sonhos
desce a rua da saudade.
= = = = = = = = = = =

(Conjunto de 05 trovas do tema "Portão", 2º lugar entre os Magníficos: Nova Friburgo/1998):
Nossas letras iniciais,
no centro do coração,
também são restos mortais
de um carcomido portão!

O abandono era patente,
no abraço da solidão:
- duas voltas de corrente
num velho e tosco portão...

Era aqui! Lembro-me bem...
Ainda é o mesmo portão.
"Cuidado! Vem vindo alguém"
-E eu soltava sua mão!

Olho o portão ... vejo as horas
nem sei há quanto te espero,
ansioso - porque demoras,
sofrendo - porque te quero!

Seu adeus, naquela hora,
revelou-a para mim:
- quem quer de fato ir embora
não bate o portão assim!...

(Conjunto de 10 trovas do tema "Covardia", 2º lugar entre os Magníficos: Nova Friburgo/1993):
O certo é que nos amamos,
mas, trazendo o amor latente,
covardemente aceitamos
ser bons amigos, somente!

Como te amei! Fui covarde
em não seguir os teus passos:
quando tentei, muito tarde,
eras manhã noutros braços!...

Não sei, covardia ou não,
se alguém faria o que fiz:
- Abrir mão da tua mão,
para que fosses feliz!...

Nosso amor já não importa,
pois fizeste a covardia
de fechar a tua porta
a quem os braços te abria!

Num ato de covardia,
ela, de mim já bem farta,
beijou-me, enquanto partia,
e mandou-me o adeus por carta!

Covardia é tu dizeres
que minha dor é fingida,
e eu ser, de todos os seres,
quem mais apanha na vida!

Se era uma fuga a viagem,
fui mais covarde na hora:
- a saudade, na bagagem,
não deixou que eu fosse embora!

Atormentado, ou covarde,
rasguei-lhe a carta, a chorar...
Fiquei sabendo, mais tarde,
que ela queria voltar!...

No corpo-a-corpo com a vida,
em combates desiguais,
e mesmo de alma ferida,
não me acovardo jamais!

"Adeus!" - Tu disseste, rindo.
"Não voltes!" - disse eu, depois.
- Dois covardes se agredindo;
morrendo de amor, os dois!...

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   TROVAS HUMORÍSTICAS

Num enterro de segunda
Houve tanta confusão
que uma parte da Raimunda
foi por fora do caixão...

As perucas diferentes,
que a vaidade lhe requer,
dão-me adultérios freqüentes
com minha própria mulher!

"- Minha vida é um livro aberto!"
diz ela, abrindo o pijama.
E o maridão, muito esperto:
- Eu adoro ler na cama!" l

A noivinha vaporosa
fita o noivo e se atordoa:
- De um pijama cor-de-rosa
não vai sair coisa boa..."

Ao voltar antes da hora,
acha a mulher se benzendo...
nem percebe que, lá fora,
seu pijama sai correndo!

Durante o pagode inteiro,
foi aquele repeteco:
ela - agitando o pandeiro;
e eu atrás... no reco-reco!

Num pagode, ao se vingar,
colou na sogra o lembrete:
"Se acaso o bumbo estourar,
podem baixar-me o cacete!"

O regime é semi-aberto
um modelo de prisão...
- Gente! Ali, quem for esperto,
não deixa a cadeia, não!

Passou na cadeia um mês...
E, com saudades da cela,
veste-se, hoje, de escocês
e pôs grade na janela.

"Isso é hora de chegar?!
E molhado!..." - ela reclama.
"por que não dormiu no bar?"
"Vim pegar o meu pijama".

Queria vencer na vida,
só faltava um "empurrão"
que veio... em plena Avenida,
na frente de um rabecão!

Com mulher sempre se alterna
minha sorte, eis a questão
- Quando uma me passa a perna,
outra me deixa na mão!

Ao receitar-me o doutor
prova de esforço, na esteira,
senti no peito um tambor,
de tanto pensar besteira!

Toda a minha teimosia
em me calar, foi em vão,
porque, na Delegacia,
me deram voz... de prisão

No meu prédio, o rebuliço
ganha maior consistência,
quando a entrada de serviço
é saída de emergência !

Minha sogra é mesmo o fim.
Eu digo e tenho vergonha:
duvida tanto de mim
que acredita na cegonha.

A mulher não se contém
e fala, meio intrigada:
- querido, a cegonha vem,             (co-vencedora UBT Rio de Janeiro - 1979)
mas... tem que ser ajudada!...

Com quantos paus, finalmente,             (Menção Especial em Porto Alegre - 1993)
faz-se a canoa? - Ora essa,
no sufoco muita gente
com um só... faz coisa à beça!

Alguém, distraidamente,               (1º lugar Conc. Magníficos Friburgo 1994)
ao notar a procissão,
se apavorou: "Corre, gente,
que lá vem outro arrastão!"

Na praia, passei-lhe um pito       (co-vencedora UBT Rio de Janeiro - 1995)
e exigi nudez total.
- Se ela já era um "palito",
para que "fio dental"?

Eu como demais, não minto;              (Nova Friburgo - 2005)
e que sede! Bebo bem...
Na verdade, sou faminto
e “sedentário” também.

Faminto, implora comida;                 (Nova Friburgo - 2005)
quer comer a noite inteira...
- E eu só sei que essa pedida
assanhou a cozinheira!

Quando é bem forte a topada,                          (Nova Friburgo - 2002)
quem puder que fique mudo...
- É melhor não falar nada
que dizer... aquilo tudo!

Xingar, após a topada,                                     (Nova Friburgo - 2002)
faz até bem; sempre ajuda.
E como, meu camarada!
-Essa velhinha... era muda ! ! !

Topada feia! Pois é...                                        (Nova Friburgo - 2002)
não tive colher de chá:
- o dedão veio no pé,
mas a unha... ficou lá!

De certa caça ele guarda                 (Menção Especial no Rio de Janeiro - 1994)
saudosa recordação,
pois, hoje, a sua espingarda
aponta só para o chão!

Não tenha medo de nada, fique à vontade meu bem, quem tem idade avançada já não avança em ninguém!” A funerária vivia
com o movimento bem fraco...      (3º lugar em Nova Friburgo - 1972)
E como ninguém morria,
a firma foi pro buraco!