Anedotário

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(texto de José Fabiano, mineirim de Uberaba)

(Do livro “Anedotário Geral da Academia Brasileira”, de autoria de José Montello)

 

 

A DESFORRA DO POETA

 

            Por ocasião do centenário do nascimento de Luís Murat, Ivan Lins, ocupante da cadeira por ele fundada na Academia, recordou a terrível desforra do poeta a uma critica de Xavier Pinheiro, filho do publicista baiano que se notabilizou por haver traduzido a Divina Comédia.

            Murat, em vez de revidar ao critico, preferiu lançá-lo ao descrédito como escritor. Para isto forjou um soneto supinamente idiota e o publicou na Vida Moderna com o nome de Xavier Pinheiro.

            E a verdade é que a vingança não poderia se mais cruel. A vida de Xavier Pinheiro – diz ainda Ivan Lins – transformou-se em infindável martírio: passou a receber cartas, telegramas e telefonemas, a propósito do soneto, o que o obrigou a recolher-se a casa, temendo ser apontado na rua como o autor deste disparate rimado:

 

            Cristo sofreu e a culpa não foi minha!

            Não foi minha essa culpa, não, não foi.

            O responsável foi Pôncio Pilatos

            E cuja a alma o remorso espuma e rói.

 

            Madalena beijou-lhe os pés e Judas

            Beijou-lhe a face, mísero protervo.

            Eu não que só beijar posso a tua mão

            E te rolar aos pés, flor, como um servo.

 

            Lembras-te aquela noite? Fiquei pálido

            Como cera, mas por dentro cálido

            E como o vento feio e sussurrante

           

            A boca te beijei todo tremendo

            Como beijou de Beatriz a boca

            O imortal e falecido Dante. 

                                                           ***

ARTUR DE OLIVEIRA E A GRAMÁTICA

 

            Numa roda de amigos na Rua do Ouvidor, vem à baila o nome de um gramático a quem se fazem louvores por seu talento.

            E Artur de Oliveira, numa definição:

            - A gramática é o talento dos que não têm talento.  

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A MAIS FEIA E A MAIS FORMOSA

 

            Em Lisboa, já com a reputação de grande poeta satírico, que trouxera de Coimbra, onde formara em Direito, recebeu Gregório de Matos o seguinte mote, proposto pelo Marquês de Fronteira:

 

            A mais formosa que Deus.

 

            E deu lhe logo a glosa nesta décima:

 

            Com duas donzelas vim

            Ontem de uma romaria;

            Uma feia parecia;

            Outra era um serafim.

            E vendo-as eu assim

            Sós, sem os amantes seus,

            Perguntei-lhes: - Anjos meus,

            Quem vos pôs em tal estado?

            Disse a feia, que o pecado!

            E a mais formosa, que Deus!

                                                              ***

 

CARA DE TEMPESTADE

 

            O Conselheiro Bomtempo, Secretário da Marinha, afinando pelo da Guerra, que não gostava de Laurindo Rabelo, acolheu mal o poeta, numa ocasião em que este lhe foi falar.

Laurindo voltou-lhe as costas e saiu da sala recitando:

 

Para mostrar quanto é grande

Seu poder, a Divindade

Mandou-me hoje um Bomtempo

Com cara de tempestade.

 

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Matéria postada em 08.01.2010

 

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