Amália Max

           Amália Max (na foto, ao lado de sua filha Sueli) nasceu em Ponta Grossa em 13 de julho de 1929,  filha de João Max e Maria Suckstorf Max. Foi presidente estadual da União Brasileira de Trovadores no Paraná e, por muitos anos, presidente da seção municipal da entidade em Ponta Grossa, onde também veio a falecer, na noite de 08 de julho de 2014. Deixa inúmeros amigos/irmãos da Trova e admiradores em geral. Publicou o livro "Escaninho"-trovas. Um dos maiores nomes que a Trova paranaense e brasileira já teve. Confira abaixo. Amália residiu, por muitos anos, à Rua Júlia Lopes, 633.

 

Para que a paz e a bonança
reinem firmes sobre a Terra,
não ponha em mão de criança
brinquedos que lembrem guerra.

Para os que seguem sozinhos,
descalços e combalidos,
que importa ter mil caminhos          ( Menção Honrosa em Pouso Alegre 1997)
se todos são proibidos?

A sorte tem seus encantos,
seus agrados, seus engodos;               (Niterói 1998)
às vezes agrada a tantos,
mas jamais agrada a todos!

Partiste e é tamanho o pranto
que temo meu peito falhe:
de adeus eu entendo tanto,
que dor, é simples detalhe.

Se me deixas por vontade...
se vais para não voltar...
O que é que eu digo à saudade
amanhã, quando acordar?

Relógio, fique parado!
Não deixe o tempo passar...
Eu quero ser enganado
quando a velhice chegar!

Nas noites de paz eterna,
vigiando a escuridão,
toda estrela é uma lanterna
que um anjo leva na mão!

Laranjais de minha infância,
frutos que alegre colhi,
hoje olho para a distância
e choro porque cresci!

A ermida à beira da estrada
plange seu sino de um jeito,
que eu sinto a corda amarrada
na saudade do meu peito...

No instante em que nossa prece
sobe a escada do infinito,
pela mesma escada desce
a paz que acalma o conflito.

Depois que, um dia, partiste,
nesta rua só choveu.
Será que esta rua é triste
ou triste nela sou eu?

O arco-íris tão bonito
e de tão finos arranjos
é só o varal do infinito
secando a roupa dos anjos!

Meus olhos azuis se embaçam,         (1º lugar em Niterói - 1988, tema "Solidão")
acabando por chorar,
quando meus braços se abraçam
por não ter quem abraçar.

Ao cortar a trança loura,
minha infância em despedida,
deixou na fria tesoura
saudosos fios de vida.

Disfarçando... Disfarçando...
o sol, malandro das horas,
vai aos poucos levantando
a saia azul das auroras.

A fonte, singelo fio,
contorcendo-se em cansaços,
encontra por fim um rio
e então se atira em seus braços.

A vida anda tão tristonha:
pobreza... fome... agonia...
que chego a sentir vergonha
de às vezes ter alegria.

Levo na face enrugada
e na fronte embranquecida
a passagem, comprovada,
de que viajei pela vida.

Poeira de estrelas cadentes
que à noite caem nos campos
são com certeza as sementes
que germinam pirilampos.

Sem mesmo ter ido ao céu
já caminhei sobre a lua!
Foi um dia andando ao léu
pisando as poças da rua.

Pergunto frequentemente:
felicidade, onde estás?
Será que corres na frente
ou ficaste para trás?

Na velha praça, embalado
por lindo sonho vadio,
apalpo o banco a meu lado
mas meu lado está vazio.

Velhice... circo que a vida
armou no fim da ladeira,
de onde a solidão convida
para a sessão derradeira.

Saudade! Não, não se cale
porque ante um circo aproveito       (Menção Especial em Rio Novo/MG - 1992)
e deixo que ele se instale
no calçadão do meu peito!

Voltaste... voltaste, eu sei,
mas o encanto foi desfeito;
agora já repintei
as paredes do meu peito.

Quando o passado é turista
no trem do meu coração,
a saudade é maquinista
e o meu peito uma estação.

Solidão é vento frio,
vento calmo mas gelado
deixa o meu peito vazio
e ainda dorme ao meu lado.

Oh! lembrança, vem com jeito,
não se perca em sonhos tardos,
porque este meu velho peito
já não aguenta tais fardos.

Quanta ternura em agosto:
o vento que beija o ipê
vem também beijar meu rosto
depois de beijar você.

Sem ter com quem conversar,
o velhinho solitário,
usa as mãos para rezar
conversando com o rosário.

Maria partiu... Maria
que nunca disse a verdade
mas era, quando mentia,
bem melhor que esta saudade.

A esperança em nossa vida,
pelo valor que ela ostenta,
pode até ser resumida
como o pão que nos sustenta.

A vida deu-me esta dor;
e hoje entre a dor e a lembrança,
sou um cheque ao portador,
sem fundo para cobrança.

Sentindo a luta perdida,
nos fracassos e derrotas,
abraço o circo da vida
para as minhas cambalhotas.

A sombra que, meio arcada,
te segue pelos caminhos,
é minha alma ajoelhada
a beijar os teus pezinhos.

Partiste... já não te importas
que em nossa casa singela
a ventura feche as portas
e a saudade abra a janela.

Partindo da meninice
é que o trem do tempo avança
e na estação da velhice
deixa saltar a esperança.

Sonhos meus... jóias de outrora
qual ouro sem um quilate,
enferrujam na penhora
sem ter mais quem os remate.

Em pedaços fui rasgando
tua foto pela praça.
Hoje os procuro chorando,
pedindo ajuda a quem passa.

O tempo em sua investida,
como sentença, suponho,
rouba-me um pouco da vida
e muito de cada sonho.

Nos dedos eu conto as horas,
não sei contar diferente,
mas, hoje, sei que demoras
bem mais do que antigamente.

Galanteios, que em verdade,
quis dizer-te ou ter escrito,
hoje, finda a mocidade,
sinto dor por não ter dito.

Não vens há meses inteiros;
e enquanto conto as auroras
a tesoura dos ponteiros
lentamente corta as horas.

Não faça da despedida
um momento de revoltas;
o amor tem portas na vida
com chave de várias voltas.

Não fale, não diga nada,
aperte mais minha mão,
faça a promessa quebrada
não precisar de perdão.

Saudade... insônia que aspira
ouvir na calçada passos,
mesmo sendo outra mentira
a vir dormir nos meus braços.

No sertão a chuva mansa
que torna a manhã cinzenta,
é mais que chuva e esperança,
é Deus regando água-benta.

Solidão é chuva fina
que encharca o chão sem correr;
e às vezes faz que termina
mas... recomeça a chover.

Não vens... e, em tuas demoras,
na angústia das madrugadas,
o relógio bate as horas
e as horas dão gargalhadas.

Muitos recebem de graça
o bom vinho da alegria;
eu pago mas minha taça
a vida deixa vazia.

Sabiá põe em seu canto
tal ternura que ao cantar,
mais parece um acalanto
para a alma cochilar.

Com mil retalhos tristonhos,
que rasguei do coração,
fiz uma colcha de sonhos
e agasalhei a ilusão.

Vejo ternuras pagãs
quando o sol, por entre os galhos,
cobre a nudez das manhãs
com seu lençol de retalhos.

A gota d'água nascida
de veio farto e profundo,
é a fonte da nossa vida
e a própria vida do mundo.

Se é por um amor que choras
enxuga os olhos... Repara:
se o relógio pára as horas,
nem por isso a vida pára.

BOM HUMOR DA AMÁLIA

Depois do enxerto a coitada,
que quis o rosto alisar,
agora vive assustada...
Seu rosto só quer sentar!

Ralhando com seus porquinhos       (M. Honrosa, Friburgo 1989)
a porca, mãe exemplar,
vendo-os, assim, bem limpinhos...
- já pro barro se sujar !!!