Edmilson F. Macedo - Trovadores Inesquecíveis IV

Trovadores   Inesquecíveis  IV

 

                                EDMILSON  FERREIRA  MACEDO 

 (texto de Thereza Costa Val, da UBT Belo Horizonte, para www.falandodetrova.com.br)

 

            Uma pessoa alegre, descontraída, de fácil comunicação, prestativa, assim Edmilson Ferreira Macedo se mostrou, desde a primeira vez que compareceu à reunião da seção belo-horizontina da UBT, no ano de 1998. Edmilson demonstrava estar feliz entre os trovadores e, sobretudo, em ser trovador.
  

            Em pouco tempo, com seu jeito brincalhão e sua simpatia, o novato trovador conquistou a admiração e amizade dos companheiros, tornando-se presença imprescindível em nossas reuniões. Costumava sentar-se na última  fileira  e sempre tinha algo para dizer.

 

            Por ser ele uma pessoa disposta a ajudar, reconheço que passamos a explorar os seus préstimos. Se fosse preciso comprar um troféu ou medalha, e mandar escrever o nome do ganhador, Edmilson se dispunha a resolver a questão. Dizia que, para ele, não havia dificuldade ou transtorno, pois nem precisava desviar-se de seu caminho. Depois, nosso amigo se ofereceu para adquirir para nós os famosos envelopinhos para a escrita das trovas e os envelopes de remessa, pois  havia descoberto um atacadista onde envelopes eram vendidos às centenas  e por um bom preço. Fazíamos a encomenda e os envelopes nunca nos faltavam. Ficamos acostumadas a usar a sua boa vontade, em qualquer situação. Ele era, de fato, gentil e atencioso. Se algum trovador adoecesse, Edmilson fazia questão de visitá-lo e oferecer seus préstimos.

 

         Na UBT Belo Horizonte, diversos trovadores colaboram financeiramente para a realização da festa de premiação do Concurso Nacional de Trovas. Edmilson nunca  deixou de dar, prazerosamente, a sua  colaboração. Enfim, além de ser uma pessoa altruísta, ele era participante ativo nas reuniões. Tornou-se, em pouco tempo, um de nossos melhores trovadores.

 

         Edmilson obteve numerosas premiações e viajou algumas vezes para receber seus prêmios. Voltava feliz dos lugares que visitava. No início, dizia que achava interessante o trovador ser convidado para uma festa, com direito à hospedagem e tudo mais, porque teve uma trova premiada. Aprendeu, depois, que esse é o jeito da UBT homenagear e festejar os trovadores classificados ( ou não ) em um agradável congraçamento.

 

       Participou das coletâneas “Garimpo de Sonhos”, 2002, “Caleidoscópio”, 2004,  e “Rosas  de Cristal”, 2006,  organizadas  pela UBT de BH. Publicou os seguintes livros de sua autoria: “Versos Esquecidos”, “Leilão de Minas e outros versos satíricos”, este sob o pseudônimo de Custódio Pimenta, e “A Saudade em Minhas Trovas”, no qual tive o prazer de escrever algumas palavras de apresentação.

 

         Sobre o livro, escrevi este trecho: “ É um livro que toca a nossa sensibilidade, tratando de um tema tão presente na vida de todos nós...” E esclareci, em outro trecho: “Com originalidade, talento e inspiração, Edmilson fala de saudades antigas e saudades novas, aponta saudades sorrateiras, ousadas ou teimosas, expõe a saudade que fala e a saudade silenciosa, a saudade que traz esperança e a que dói, menciona até a saudade de outras saudades...” Minha grande alegria foi  perceber a satisfação de Edmilson   pelas palavras singelas  que lhe dediquei. 

          Edmilson Ferreira Macedo era baiano, nascido na cidade de Euclides da Cunha, em  04 de dezembro de 1932. Faleceu em Belo Horizonte, cidade onde passou a morar desde 1982, depois de sua aposentadoria no Banco do Brasil, em Brasília. Seu falecimento ocorreu em  16 de junho de 2008. Lutou por um período de um ano ou pouco mais, com a doença que o acometeu, porém, enquanto deu conta, não deixou de fazer trovas. Verdadeiramente, a trova  é  um lenitivo para os males físicos ou do coração  do trovador.

 

        Além da saudade, Edmilson  nos deixou  belas trovas que o tornam sempre lembrado. Eis algumas:

 

        A saudade é como o espinho              Amor há no coração

        que entra no peito da gente:             que é como brasa  apagando.

        no início – dói um pouquinho,          Se vai virando carvão,

        depois – dói profundamente!            surge a saudade soprando...

 

        Passo o tempo arquitetando             Dor da ausência de um amor,    

        um jeito de conquistá-la                  dor no peito, dor pungente,

        e  ao vê-la, de quando em quando,  saudade é, talvez, a doe

        nada faço e perco a fala...                 que dói mais dentro da gente!

 

        A  saudade nos maltrata                   Posso medir minha idade

        e deixa a gente doente...                  pelo lado sofredor:

        Saudade   eu sei que não mata         tenho léguas de saudade  

        mas sempre atormenta a gente.      e quilômetros de dor!

 

        Tão lindas, de várias cores,             Que saudade diferente

        vivem na terra e no ar:                    e que tristeza tão crua:  

        as borboletas são flores                  a minha escova de dente          

        que aprenderam  a voar.                  sente saudade da tua...

 

        Oh! Musa de mil encantos,              Mato cobra, piso em brasa, 

        mulher divina e querida,                 tenho coragem de sobra,

        que sabe enxugar meus prantos     mas, dentro de minha casa,  

        nas horas tristes da vida.                sou “trem” que a mulher manobra.

 

        Num retrato, ao lado dele,              Quando à sua casa chego,

        um macaco aparecia...                    sinto que tudo me atrai,

        Assim, Zé descobriu que ele           e, no seu doce aconchego,

        tinha um “clone”... e não sabia.      eu falo “oxente” e ouço “uai”...

 

        Na nossa última reunião deste ano de 2010, em 13 de dezembro, sua viúva Salete, seus filhos João Paulo e Ana Luiza, lançaram o belo livro de haicais – “Colheita Outonal” - que Edmilson havia deixado organizado para publicação, prestando-lhe  comovente  homenagem  póstuma. Com certeza, Edmilson esteve ali, feliz,   entre seus amigos trovadores.

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NOTA = Thereza Costa Val, nossa colunista é, acima de tudo, uma grande amiga e grande literata, dominando não só a o verso como a prosa.  

 

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